Bom, momento emo. São cinco e vinte e dois da manhã, mais uma vez acordo de madrugada por causa de filologia românica II, não agüento mais entender que o latim variou e formou sei-lá-quantas-línguas mais ou menos evoluídas. Só penso em espanhol e em português e já acho demais.
Pois bem, nem sei ao certo por que estou ema, nesse momento escuro da madrugada de dezessete de junho. De novo a vizinha de cima passeia de salto alto, aliás, acho que ela só anda de salto alto e passa o dia inteiro acordada.
Falei da vizinha e sei que vou sentir falta dela. Assim como vou sentir falta do meu quarto formato de pizza e da minha cortiça que não vou poder levar. Também não vou poder levar essa pilha de livros que nunca li e talvez, numa tarde fria de terça-feira, durante a aula de literatura brasileira e portuguesa, eu descubra que preciso de um deles e compre outro, por uma fortuna em pesos.
E vou sentir falta do barulho do ônibus. E dos pombos que eu tanto odeio. E da gata preta e branca (que pode estar parindo nesse exato momento). E da moça da barraquinha. Vou sentir falta de tudo o que não é óbvio, porque não vou ter notícias deles, não vou saber tudo o que acontece, nem ao menos vou saber quantas vezes por dia o pi-pi-pi do portão da frente toca (não que eu saiba).
E vou sentir falta dos marimbondos e das aranhas e formigas. Da gigantesca barata que morreu por mim (muito menos poeticamente que em G.H.). Vou sentir falta de ficar revoltada porque o carinha da biblioteca acessa o orkut ao invés de dar baixa nos livros que entrego. E vou sentir falta da porta do armário da cozinha que emperra e das inúmeras vezes em que me mandam guardar a louça. Vou sentir falta do cobertor eterno (que eu espero que esteja aqui quando eu voltar). E mais ainda, vou sentir falta do gancho que despenca atrás da porta por causa dos milhões de casacos e bolsas que penduro ali. E da gaveta que, finalmente, consegui consertar com super-bonder.
Quando eu voltar os ônibus 663 vão ter mudado (ó otimismo!) e vão ter mudado os motoristas e o despachante (que já mudou muitas vezes). Vai ter mudado o preço da passagem e eu vou achar absurdo ser R$2,30. Vou poder fazer comparações depreciando tudo isso que acabo de dizer que sinto falta, a gata não vai mais estar ali, vai morrer como a outra. Vão ter outras lojas no shopping e a c&a não vai ter mudado nada (pelo menos isso). Algumas pessoas vão estar anos mais velhas, às vezes um, às vezes dois, às vezes a vida inteira. Filhos nascidos dos quais não fui nem seria madrinha, casamentos não-realizados e namoros desfeitos. Filhos não-nascidos, casamentos realizados e namoros feitos. Sobrinhos a vista, pêlos brancos na cara da minha gata (que também é preta e branca), cabelos mais brancos na cabeça do meu pai e minha mãe ainda fazendo festa junina.
Não é tanto tempo pra tudo isso acontecer, apesar de filhos nascerem em nove meses e namoros acabarem de um dia pro outro, mas dói um pouquinho a cada dia pensar no tanto de coisas fúteis que não vou saber, no tanto de miados noturnos que não vou ouvir, no tanto de porres e ressacas que não vou contar. É sonho, sonho realizado, mas dói do mesmo jeito, assim como doeu sair de lá pra vir pra cá e assim como passei por coisas que nunca poderia imaginar. Deixei de ver o Mimuim e de escutar o caminhão de lixo às duas da manhã.
Eu volto, por mais que isso pareça remoto, tão remoto quanto a possibilidade de ir, mas eu vou. E volto. Divisor de águas, sei lá o que isso significa, o que eu sei é que quando eu voltar vou poder criticar a seleção nas olimpíadas e dizer que nada como um bom vinho argentino pra curar a saudade.
Pois bem, nem sei ao certo por que estou ema, nesse momento escuro da madrugada de dezessete de junho. De novo a vizinha de cima passeia de salto alto, aliás, acho que ela só anda de salto alto e passa o dia inteiro acordada.
Falei da vizinha e sei que vou sentir falta dela. Assim como vou sentir falta do meu quarto formato de pizza e da minha cortiça que não vou poder levar. Também não vou poder levar essa pilha de livros que nunca li e talvez, numa tarde fria de terça-feira, durante a aula de literatura brasileira e portuguesa, eu descubra que preciso de um deles e compre outro, por uma fortuna em pesos.
E vou sentir falta do barulho do ônibus. E dos pombos que eu tanto odeio. E da gata preta e branca (que pode estar parindo nesse exato momento). E da moça da barraquinha. Vou sentir falta de tudo o que não é óbvio, porque não vou ter notícias deles, não vou saber tudo o que acontece, nem ao menos vou saber quantas vezes por dia o pi-pi-pi do portão da frente toca (não que eu saiba).
E vou sentir falta dos marimbondos e das aranhas e formigas. Da gigantesca barata que morreu por mim (muito menos poeticamente que em G.H.). Vou sentir falta de ficar revoltada porque o carinha da biblioteca acessa o orkut ao invés de dar baixa nos livros que entrego. E vou sentir falta da porta do armário da cozinha que emperra e das inúmeras vezes em que me mandam guardar a louça. Vou sentir falta do cobertor eterno (que eu espero que esteja aqui quando eu voltar). E mais ainda, vou sentir falta do gancho que despenca atrás da porta por causa dos milhões de casacos e bolsas que penduro ali. E da gaveta que, finalmente, consegui consertar com super-bonder.
Quando eu voltar os ônibus 663 vão ter mudado (ó otimismo!) e vão ter mudado os motoristas e o despachante (que já mudou muitas vezes). Vai ter mudado o preço da passagem e eu vou achar absurdo ser R$2,30. Vou poder fazer comparações depreciando tudo isso que acabo de dizer que sinto falta, a gata não vai mais estar ali, vai morrer como a outra. Vão ter outras lojas no shopping e a c&a não vai ter mudado nada (pelo menos isso). Algumas pessoas vão estar anos mais velhas, às vezes um, às vezes dois, às vezes a vida inteira. Filhos nascidos dos quais não fui nem seria madrinha, casamentos não-realizados e namoros desfeitos. Filhos não-nascidos, casamentos realizados e namoros feitos. Sobrinhos a vista, pêlos brancos na cara da minha gata (que também é preta e branca), cabelos mais brancos na cabeça do meu pai e minha mãe ainda fazendo festa junina.
Não é tanto tempo pra tudo isso acontecer, apesar de filhos nascerem em nove meses e namoros acabarem de um dia pro outro, mas dói um pouquinho a cada dia pensar no tanto de coisas fúteis que não vou saber, no tanto de miados noturnos que não vou ouvir, no tanto de porres e ressacas que não vou contar. É sonho, sonho realizado, mas dói do mesmo jeito, assim como doeu sair de lá pra vir pra cá e assim como passei por coisas que nunca poderia imaginar. Deixei de ver o Mimuim e de escutar o caminhão de lixo às duas da manhã.
Eu volto, por mais que isso pareça remoto, tão remoto quanto a possibilidade de ir, mas eu vou. E volto. Divisor de águas, sei lá o que isso significa, o que eu sei é que quando eu voltar vou poder criticar a seleção nas olimpíadas e dizer que nada como um bom vinho argentino pra curar a saudade.
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